O morango do amor e o risco da sua empresa viver de hype.

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Ele apareceu primeiro em alguns vídeos aleatórios. Depois invadiu vitrines, stories, filas e até a grade de produtos da Sodiê, que vendeu mais de 40 mil unidades em apenas duas semanas.

Influenciadores fizeram conteúdos comendo. Docerias colocaram o produto como destaque. Consumidores esperaram mais de uma hora na fila — e compartilharam o feito com orgulho.

Sim, estamos falando dele: o morango do amor, a trend que dominou o Brasil até o momento, neste ano.

Mas por que uma fruta caramelizada mobilizou tanta atenção?

Mais importante: o que esse fenômeno revela sobre o comportamento do consumidor, o papel das plataformas sociais e as escolhas estratégicas que uma marca precisa fazer em tempos de viralização acelerada?

Este artigo é uma análise profunda sobre o que há por trás do hype — e um guia prático para marcas decidirem se vale (ou não) entrar na próxima trend.

🍓 Começo doce: o que é o morango do amor do ponto de vista do comportamento?

O morango do amor, por mais fotogênico que seja, não mobilizou multidões apenas pelo sabor. Ele ativou um gatilho mental ancestral: o desejo de pertencimento combinado com escassez.

Quando vemos dezenas — ou centenas — de vídeos exaltando um produto, nosso cérebro interpreta isso como um sinal de valor social. Se está bombando, deve ser bom. Se está esgotando, é melhor correr. E se todo mundo está postando, eu também quero fazer parte.

Esse é o efeito manada, um comportamento coletivo inconsciente que acompanha a humanidade desde os primórdios. Ele está relacionado à nossa necessidade instintiva de segurança, cooperação e aceitação no grupo.

“Essa tendência remonta às primeiras comunidades humanas, onde participar de agrupamentos protegia contra ameaças externas e aumentava as chances de sobrevivência.” — Fabiano de Abreu Agrela, PhD em neurociência e antropólogo

Segundo Agrela, esse impulso de seguir o grupo é moldado tanto por fatores genéticos quanto pelo ambiente cultural. Regiões do cérebro como o sistema límbico, o córtex cingulado anterior e a ínsula estão envolvidas na percepção social, empatia e sensação de pertencimento. É por isso que trends digitais nos afetam tanto — mesmo sem percebermos.

O fenômeno do morango do amor é, portanto, menos sobre uma sobremesa e mais sobre uma estrutura neurossocial que nos move desde sempre. Só que agora, ela é amplificada por algoritmos.

📲 TikTok como fábrica de desejos, Instagram como vitrine

O TikTok foi o motor da trend. Os primeiros vídeos bombaram ali — com títulos como “a nova febre”, “vale a hype?” e “me rendi ao morango do amor”.

A partir daí, o Instagram entrou como vitrine aspiracional. As pessoas queriam mostrar que também estavam ali. Que participaram da febre. Que pertencem.

Foi um ciclo completo:

desejo + visibilidade + senso de urgência = filas nas docerias.

Essa dinâmica mostra o papel atual das plataformas:

  1. TikTok cria tendência e desperta vontades
  2. Instagram valida comportamentos
  3. WhatsApp converte em recomendação social

Um ciclo que, bem aproveitado, é uma máquina de vendas. Mal compreendido, evapora.

Aliás, é exatamente por isso que marcas precisam monitorar o TikTok com atenção — é lá que a tendência nasce, muitas vezes meses antes de se tornar um produto.

O TikTok é o epicentro de boa parte das trends contemporâneas — especialmente no universo da alimentação. O chamado “food marketing emocional” tem um poder imenso ali. Sons satisfatórios, cortes rápidos, closes em morangos brilhantes e crocantes: tudo isso desperta desejo, cria escassez e alimenta o FOMO (fear of missing out).

O Instagram, por sua vez, acelera a validação social. Marcas repostam stories de clientes, criam vídeos curtos, distribuem press kits. A estética da comida viral, bonita, fácil de consumir e de compartilhar, se torna a principal moeda do momento.

Mas o que viraliza também esfria. E rápido.

Trend não é tendência. E nem toda tendência vale a pena.

Esse talvez seja o principal ponto que diferencia uma marca forte de uma marca que busca somente oportunidades pontuais de mercado.

  1. Trend é uma explosão momentânea. Surge do comportamento coletivo, dura pouco, mas pode gerar alto impacto de curto prazo.
  2. Tendência é uma mudança comportamental mais profunda, conectada a novos hábitos, valores e formas de consumo.

O morango do amor é uma trend. Mas ele toca em tendências maiores:

  1. O consumo como entretenimento
  2. O apelo sensorial nos vídeos
  3. A nostalgia como estímulo emocional
  4. A comida como performance social

Marcas que entenderam a diferença entre surfistas de hype e estrategistas de marca conseguiram extrair mais valor. Outras, que só adicionaram o item no cardápio por medo de ficar de fora, provavelmente irão testemunhar o movimento passar sem deixar rastro — além de sobra no estoque.

🍩 Food Marketing: um sabor que vende

A explosão do “morango do amor” é só a superfície de algo muito mais profundo: a força crescente do food marketing sensorial.

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OBoticário

Hoje, a comida está em toda parte — inclusive em setores onde, recentemente, isso seria impensável. Produtos de beleza com nome de sobremesa. Perfumes com estética de milkshake. Campanhas de moda com cheirinho de pão quente.

Por quê?

Porque comida emociona. Ativa sentidos. Conecta com memória afetiva.

Vamos aos exemplos:

1. Rhode (Hailey Bieber) criou toda sua identidade a partir da ideia de uma pele que parece um “donut glaceado”. Isso resultou em collabs com a Krispy Kreme e produtos como o “Glazing Milk”.

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Rhode

2. JACQUEMUS enviou pães com manteiga de verdade como convite de desfile — uma jogada criativa que uniu moda, toque, cheiro e afeto.

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glamour.globo.com

3. Gucci, Prada e Louis Vuitton abriram cafeterias próprias (em Paris, Tóquio e Milão, por exemplo), entendendo que o luxo também pode ser degustado. Eles não vendem apenas bolsas: vendem experiência sensorial completa.

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Gucci

4. Marcas como Glossier, Too Faced, Fenty Beauty e The Beauty Bakery apostam constantemente em nomes e embalagens com referências a doces e cafés — todos associando indulgência, prazer e estética.

Nas campanhas, a comida evoca sensações físicas que não podem ser tocadas – e é isso que a torna tão poderosa no digital. Se o consumidor não pode experimentar, ele precisa imaginar.

💰 Vendeu muito. E depois?

O case da Sodiê é emblemático. A marca agiu com velocidade, ativou influenciadores, escalou produção e colheu os frutos: 40 mil unidades vendidas em duas semanas.

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Mas e quando o hype passar?

Essa é a pergunta mais importante deste artigo. Porque atenção é um ativo necessário — mas não é suficiente.

Atenção sem estratégia é só barulho.

Atenção sem conexão com a proposta de valor é só gasto.

Atenção sem construção de marca é resultado pontual e passageiro.

Se o morango do amor não tiver se conectado aos pilares da marca, à sua narrativa e aos propósitos, ele terá sido apenas um pico e, não, um passo estratégico.

📌 O guia definitivo: a sua marca deve entrar numa trend?

Você só deve surfar uma trend se responder sim para pelo menos 3 das 5 perguntas abaixo:

  1. Isso tem a ver com os valores da minha marca?
  2. Eu consigo adaptar esse movimento de forma autêntica, sem parecer forçado?
  3. Há demanda real e operacionalidade para atender?
  4. Posso transformar a atenção em algo maior (como awareness, aquisição, novos públicos)?
  5. Consigo extrair aprendizados dessa trend para reforçar meu branding a longo prazo?

Se a resposta for “não” para a maioria, o mais estratégico pode ser ficar de fora — ou observar.

Porque não entrar também é uma decisão de marca.

🚫 O risco de viver de hype

Toda marca que quiser se manter relevante vai, em algum momento, se perguntar:

“Vale a pena entrar nessa trend?”

A resposta é uma só. É estratégica.

Trends podem gerar vendas rápidas. Engajamento. Tráfego.

Mas não constroem marcas.

A base de toda marca sólida ainda é a mesma:

reputação, coerência e propósito.

Se a trend não reforça o que sua marca é, não faz sentido participar. De novo, é decisão estratégica e, só cabe estar na trend, surfar o hype, se houver conexão entre a marca, o segmento de mercado e o produto/serviço.

🧭 Em resumo

  1. O morango do amor vendeu muito.
  2. Quem soube surfar com propósito, ganhou atenção e margem.
  3. Quem seguiu a manada por medo de ficar de fora, pegou fila — e vai ficar com o estoque.

Trends passam. Marcas permanecem.

E essa é a diferença entre o hype e a estratégia.

Se você quer construir ou posicionar uma marca que não dependa somente de modinhas, mas entende o movimento de um hype, e como e por que surfar uma trend, esse artigo é o seu guia.

👉 Leia, repense e compartilhe.

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